Cícero de Pais
Pensar que tudo o que existe
cabe num átomo
que todas as tragédias se resumem
numa lágrima
ou que todas as civilizações se fundem
numa célula.
Pensar que tudo o que não existe
está a caminho
sem melodramas e protocolos que
permitem o amanhecer.
Imaginar que qualquer sonho não
é miragem
cavalo selvagem vencendo colinas
das divagações.
Achar que todo o tempo é somente
um átimo
que todas as palavras de todas as línguas
resumem-se numa vírgula
ou não achar nada, encarar os fatos
como rudes engrenagens
que rangem e criam em seus âmagos
cérebros invioláveis.
Pensar que toda a verdade poética
é o milagre da vida
cantado em verso e prosa por
criaturas improváveis
ou não pensar em nada, deixar que o tempo cure
a ferida aberta
pela verdade numa do poema em flor
aos pés da possível eternidade.